sábado, 21 de maio de 2011

Relembre o Maio baiano!!!

Repressão lembra ditadura!

Foi com essa chamada que desde o dia 13 de maio 2001 um belo cartaz produzido pela gráfica do Sindicato do ramo Químico e Petroleiro, estampava as imagens da brutalidade policial do dia 10 de maio e ao mesmo tempo convocava o ato dos estudantes na reitoria. Proposto pelos estudantes da UFBA foi imediatamente incorporado pelo DCE-UNEB, UNE, MST, CUT e UBES. Convocamos o ato estudantil sem muita certeza do tamanho da adesão.

Decidimos fazer o ato na sexta-feira, dia 11 de maio e tivemos até a terça-feira para passar em sala e convocar os estudantes. Nos dias de segunda e terça, senti um clima tenso nas Faculdades e nas ruas, era como se a cidade estivesse se preparando para o pior. Já na manhã de quarta, dia 16 de maio, li o Jornal A Tarde que ajudou a convocar a passeata. Na matéria sobre a passeata dos partidos de oposição no dia anterior, usavam a minha fala para dizer que iríamos repetir a tentativa de chegar até a casa de ACM.

Eu morava em São Lázaro, ali ao lado da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (FFCH). Acordei cedinho passei na FFCH. Puxamos a nossa passeata de lá até a reitoria. Para minha grata surpresa, chegando lá encontramos várias outras passeatas, vindas da UFBA, de escolas secundaristas públicas e particulares, mais uma vez encontravam-se nas ruas os Diretórios e Centros Acadêmico, Diretórios Centrais dos estudantes a UNE e a UBES. A massa estudantil somavam-se com muita força aos sindicatos combativos da Bahia. Comerciários, construção civil, bancários, professores, metalúrgicos, químicos, trabalhadores da UFBA, médicos e outros que eu não consigo lembrar.

Muitos dirigentes partidários, todo mundo da oposição. Deputados estaduais e federais, vereadores. Unificávamos ali, na Rua, uma verdadeira frente popular de massas. E saímos da reitoria. Muita festa, muitas palavras de ordem. Fizemos todo o percurso definido pela comissão de segurança sem dizer qual era o caminho. A turma de cinco a seis mil pessoas seguia na confiança de que era uma medida necessária para não vazar a informação, pois acreditávamos que existiam agentes infiltrados pela Polícia na passeata.

Seguimos pela “João das Botas”, quebramos pela “Juraci Tavares Lyra”, descemos pela “Araújo Pinho”, entramos pela “Marechal Floriano” e desembocamos na Faculdade de Odontologia da UFBA. Ali entramos na UFBA, passamos pela Escola de Música e depois pela escola de Biblioteconomia e Arquivologia e chegamos ao viaduto do Canela, que faz a conexão entre os dois lados da UFBA.

O viaduto já estava interditado. Na subida do estacionamento da Faculdade de Direito, estava apinhado de policiais do Batalhão de Choque. Todos fortemente armados com equipamentos de dispersão e controle de multidões. Paramos o carro de som no começo do viaduto enquanto parlamentes e professores tentavam em vão dissuadir os comandantes da operação policial, tentavam convencê-los a sair do campus. O tempo foi passando e mais gente foi chegando, muitos, muitos universitários, mas muito mais ainda secundaristas, a cada minuto íamos perdendo a capacidade de organizar as pessoas, muita raiva, indignação e impaciência. O viaduto foi se transformando em uma panela de pressão, uma tensão muito forte e o calor abrasivo aumentava a temperatura da situação.

Enquanto estávamos encurralados, o professor de direito, Wilson Alves, impetrou o pedido de habeas corpus para que pudéssemos passar pela Faculdade de Direito. Mais tarde chegou a Polícia Federal com o habeas corpus que fui entusiasticamente comemorado. Mas nem mesmo isto foi suficiente para demover os comandantes da operação policial de impedir o nosso trajeto. Liberdade cerceada, Constituição rasgada, cidadania obliterada. Impossível para a juventude lá presente aceitar.

De repente os estudantes resolveram subir o morro da Faculdade de Direito para chegar ao estacionamento atravessar o prédio e ir para a Graça driblando o cerco policial. Quando já éramos muitos lá em cima, a Polícia fez uma barreira para impedir a subida de centenas de bravos que ignorando o medo, reorganizavam-se para dentro da Faculdade.

Aí eles atiraram. Vi nitidamente o bombardeio, a turma secundarista rolando como pedras morro abaixo sobre a pressão das bombas de baixo impacto, os cavalos, os cassetetes a tentativa de total repressão. Divididos pela barreira policial, parte de nós subiu pela faculdade que foi também bombardeada.

Abro espaço para comentar que na noite do dia 15 para 16 de maio de 2011, dormi muito mal, as imagens e sons perturbadores assolaram meu sono. Fumaça, fardas cinza e capacetes. Camisas brancas, gente correndo e medo. Vidraças inteiras da Faculdade caiam como papel, a estrutura física do prédio produzia um eco estrondoso amplificando o barulho das bombas. Ao mesmo tempo, colhia toda a fumaça do gás lacrimogêneo, potencializando todos os efeitos das armas de guerra.

Voltando para a narrativa, depois do ataque, minutos depois, fui chamado na sala da congregação com o diretor, alguém da Polícia Militar e a Polícia Federal, para negociar a nossa saída e a das tropas. Este policial me disse algo mais ou menos assim: “Agora que vocês já conseguiram o que queriam vamos acabar com esta situação”. Acordamos com a saída pacífica de estudantes e da Tropa de Choque, saí para o estacionamento inferior da Faculdade e apresentei a situação para as lideranças presentes que concordaram, tentamos então disseminar a informação e reaglutinar na Reitoria.

Descemos para o Vale do Canela, em todos os lugares havia fumaça e estudantes, em todos os pontos de odonto, enfermagem, direito, administração, medicina em todas as ruas do Vale. Havia uma chuva de paus e pedras sobre os policiais. Havia barricadas de troncos de árvores, pedras grandes e latas de lixo pegando fogo. E parte da Tropa de Choque estava tentando se proteger atrás de um ônibus que eles haviam parado. Esta ofensiva era liderada pela turma do DCE-UNEB. Falei com eles sobre o acordo com o comando da Polícia e tentamos em vão explicar o mesmo aos policiais que resolveram continuar atacando. Não foi possível enfrentar-nos, tiveram que recuar e saírem da UFBA, ao som de marcha soldado.

Mas tarde uma multidão se reuniu na Reitoria, saindo em passeata até a Praça Municipal, lá ficamos sabendo que o reitor da UFBA havia convocado o Conselho Universitário extraordinário por causa da invasão. Nós voltamos, havia outra multidão na Reitoria esperando a reunião do conselho. Fizemos a reunião aberta ao público, todos os diretores de Faculdade e Institutos, pró-reitores e conselheiros estudantis estavam presentes, deliberamos entre outras coisas por convocar a Assembleia Universitária para o dia 17 de maio, às 9h. Começávamos, naquele momento, a articular a resposta da Universidade e de toda a sociedade baiana: 1, 2, 3 ACM no xadrez.

Ademário Costa é graduado em Ciências Sociais pela UFBA, foi do DA (Diretório Acadêmico) de Ciências Sociais, do DCE (Diretório Central dos Estudantes) da UFBA (gestão Declare Guerra/99-2001), diretor de Combate ao racismo (gestão 99-2001) e vice-presidente da (União Nacional dos estudantes) UNE de 2001 a 2003, atualmente é Secretário de Finanças do PT/BA.

Autor: Ademário Costa* ,postado em 17/05/2011

3 comentários:

André Borges disse...

Muito autentico esse texto.

carlos pronzato disse...

Relembrar sempre o MAIO BAIANO!!!!
Carlos Pronzato
diretor do documentário: MAIO BAIANO
www.lamestizaaudiovisual.blogspot.com

Rafael Marinho disse...

Pessoal, não estou aqui para convencer ninguem, nem iniciar um debate politico-partidario.
Mas vamos lembrar só uma coisa. Isso de fato aconteceu como vocês descreveram e mídia noticiou.
Mas é justo condenar um neto por crimes praticados pelo avô? Que garantia temos que a historia se repetirá?
Quer dizer que se um antepassado meu for um criminoso eu também deva ser condenado e cruxificado por tais atos?

Fica a reflexão! Existem outros argumentos para justificar a decisão de não votar no candidato A ou candidato B, esse que foi exposto não prova nada.

Postar um comentário

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More

 
Design by Free WordPress Themes | Bloggerized by Lasantha - Premium Blogger Themes | Top WordPress Themes