segunda-feira, 4 de maio de 2009

O que é o Transence?

SENCE – SECRETARIA NACIONAL DE CASAS DE ESTUDANTES
Regional Norte/Nordeste
Secretaria de Gênero: Darci-UFMA e Bruno-UFS


O que é o Transence?
Danilo Kamarov (Bruno), História UFS
Sencenne, Gênero

De forma pontual e categórica, o Transence é um espaço de opressão. Mais um no meu entendimento. A forma como é concebido e desenvolvido acaba por reproduzir preconceitos e principalmente reforçar a marginalização d@s* homossexuais. Mas vamos entender porque isso acontece.

Primeiramente, o Transence é um momento amplamente despolitizado, uma vez que não há debates/discussões e é visto apenas como “cultural” (no pior sentido da expressão, aquele que cultural é só festa/show). É uma reprodução do carnaval onde as pessoas se ridicularizam (no sentido literal, de fazer rir). E neste caso, se ridicularizar é se travestir. É isso que pensamos, que queremos? Travestir é algo ridículo?

Outro paralelo com o carnaval é a marginalização. Durante o ano todo (carnaval), ou a semana toda (ENCE), existe um dia específico para se travestir. Apenas naquele dia não haveria preconceitos, pois tod@s estão travestid@s. Mas isso é uma falácia: existe um dia para as pessoas expressarem o que realmente são, mas isso só é possível porque estão invisíveis uma vez que tod@s estão travestid@s. Seria o dia do avesso, no resto do ano/semana tod@s devem voltar ao “normal”.

Segundo, a eleição do Transence é baseada em quais critérios? @ mais escrot@, mais ridícul@? Podemos ver que não há nenhuma valorização da cultura e dos direitos d@s homossexuais. Pelo contrário, reproduzimos os estereótipos d@ homossexual. Até a troca dos nomes é realizada, principalmente entre os meninos que ganham nomes femininos “de guerra”. Alguém acredita que tod@ homossexual quer mudar de sexo? Homossexual é a atração física, emocional, estética e espiritual com seres do mesmo sexo, não quem quer mudar de sexo. E porque então no Transence tod@s se portam de forma afetada? Meninos se tornam afeminados e meninas “machonas”. Isso são estereótipos.

Terceiro. Seguindo a linha do reforço aos estereótipos e marginalização, restringimos @s homossexuais a espaços festivos. É como se esse fosse o limite deles, para além de festas hedonistas a relação homoerótica não é aceita. Para quem não sabe, quando a AIDS começou a ser disseminada, um dos argumentos que culpavam os homossexuais era que eles levavam uma vida promíscua. Grandes críticas à Parada Gay é que se enfatiza muito o desfile, os corpos, reforçando esse tipo de preconceito. É difícil imaginar @s homossexuais trabalhando, estudando, vivendo para a família.

Essa problemática também foi discutida nos encontros de História, mas o avanço foi nulo. Mudou-se de título, não é mais ENEH Gay-Sapa, agora é ENEH Fantasia. Mudou-se a embalagem e manteve-se o conteúdo. Algo parecido aconteceu no XII Ennece Sergipe 2008. No projeto inicial não tinha a cultural do Transennece, quando voltou do pré-ennece foi incluída sob o argumento de estar seguindo as deliberações do Ennece anterior. Belezau. Na plenária inicial do XII Ennece questionei qual o caráter do Transennece e expliquei minha compreensão deste como um espaço de opressão. A resposta é que o Transennece na verdade seria a noite da música eletrônica, trance principalmente. Vai vendo. Quando da noite cultural, o eletrônico rolando, começa uma movimentação. Não se sabe quem, não se sabe como, mas organizaram o desfile e a eleição do Transennece. E acabou-se reproduzindo todo o preconceito comentado no início.

Para o Transence ter alguma legitimidade, primeiramente é preciso politizar o espaço. Não apenas com GT que acaba se restringindo a quem se interessa pelo tema, mas com uma mesa como no XXXI ENCE Recife 2007. Com a institucionalização dos dias de opressão, onde um dia do Encontro e outro no ano, tod@s que se sentirem à vontade passariam o dia todo travestid@**. E neste último ponto temos uma grande diferenciação.

O Dia de Opressão começa não quando as pessoas saem na rua e passam o dia travestid@s, mas quando se toma a decisão de fazê-lo. Quando recusamos já nos politizamos se pensarmos porque recusamos. Não queremos ser ridicularizad@s, não queremos ser humilhad@s, etc. Não queremos isso nem por um dia, então imagine isso acontecendo toda a sua vida? O Dia de Opressão é um dia onde nosso cotidiano se mantém o mesmo com a diferença de estarmos travestid@s. Então iríamos travestid@s para assistir a aula, para o mercado fazer compras, ao andar de ônibus, ir pro trabalho (na medida do possível) etc. Sentir os olhos acusadores, as risadas debochantes, as piadas ofensivas, sentir um dia de opressão. É uma vivência mesmo! A partir daí podemos pensar em fechar uma noite do ENCE com uma cultural, que com certeza teremos uma compreensão desta noite muito diferente da que temos hoje.

* o uso do @ é para designar os dois sexos. É uma alternativa a expressões como “todos e todas”, “trabalhadores/as”.
** No caso dos meninos é mais fácil se travestir, basta colocar uma saia. As meninas precisam ser mais criativas, uma vez que existe menos simbologia no que seria “roupa de menino”.

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Enviei este texto para outras listas do movimento estudantil e recentemente me foi pedido por um colega de geografia. Ele quer fazer esse mesmo debate, pois estão querendo fazer uma noite parecida nos encontros de geografia.

danilo, ufs
sennece sec. genero
feop

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